Desfibrilador Portátil: O centenário do inventor que ajudou a salvar milhões de vidas nas últimas 5 décadas

O professor Frank Pantridge é lembrado como o cardiologista que inventou o desfibrilador portátil, equipamento que ajudou a salvar milhões de vidas nos últimos 50 anos.
Frank Pantridge ajudou a salvar muitas vidas.

O professor Frank Pantridge é lembrado como o cardiologista que inventou o desfibrilador portátil, equipamento que ajudou a salvar milhões de vidas nos últimos 50 anos.

E, segundo familiares, era também conhecido por não poupar críticas às autoridades – alguns acreditam que essa tenha sido a razão pela qual o médico, cujo centenário de nascimento foi celebrado na última segunda, não alcançou o merecido crédito no Reino Unido.

“Na nossa família, Frank é lembrado como uma grande personalidade completamente dedicada ao trabalho, mas que era o centro das reuniões familiares em que ele chegava invariavelmente com uma hora de atraso”, disse Victoria Jordan, sua sobrinha-neta.

“Era uma companhia agradável, tinha um jeito árduo e uma opinião crítica em relação às autoridades – em particular, aos políticos.”

Expulso da escola

Quem acompanhou a infância problemática de Pantridge dificilmente arriscaria que um dia ele salvaria tantas vidas com sua invenção – como a do ex-jogador de futebol Fabrice Muamba, que teve um ataque cardíaco durante um jogo em 2012 e foi salvo pelo uso do desfibrilador portátil.

Ele cresceu em uma fazenda nas cercanias do vilarejo de Hillsborough, na Irlanda do Norte, e perdeu o pai aos dez anos.

Mas mesmo após ter sido expulso da escola algumas vezes, se formou na vizinha Lisburn e, em 1939, concluiu o curso de Medicina na Queen’s University, em Belfast.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi enviado para o Extremo Oriente como médico de um batalhão de infantaria. Em 1942, foi capturado em Cingapura e, como prisioneiro de guerra, passou muito tempo fazendo trabalhos forçados nos trilhos de trem de Mianmar (antiga Birmânia).

Reconhecimento militar

Pantridge sobreviveu à beribéri – doença na qual a falta de uma vitamina prejudica o coração -, o que pode ter despertado seu interesse pelos males cardíacos.

O médico foi reconhecido pelo seu trabalho militar e ganhou uma medalha com a seguinte citação: “Este homem trabalhou diante das condições mais adversas, em meio a bombardeios, e foi inspiração para todos com quem esteve em contato. Ele permaneceu absolutamente calmo mesmo diante da mais intensa artilharia”.

Em 1950, ele foi nomeado como físico no Hospital Royal Victoria, em Belfast. Naqueles tempos, as doenças coronárias haviam atingido patamares de epidemia.

Os médicos sabiam que a maioria das mortes relacionadas a esses males resultava de um distúrbio no ritmo dos batimentos cardíacos, que poderia ser corrigido com um choque elétrico no peito.

Pantridge sugeriu que tais distúrbios deveriam ser corrigidos onde acontecessem – fosse no trabalho, em casa ou na rua. Mas isso significava ter de usar um desfibrilador portátil, algo que ainda não existia.

Foi assim que, com a ajuda de outras duas pessoas, o professor inventou em 1965 o primeiro desfibrilador portátil do mundo, que usava as baterias dos automóveis.

O aparelho foi instalado na ambulância local e foi usado pela primeira vez em janeiro de 1966. O primeiro modelo pesava 70 kg – hoje, a versão mais moderna pesa apenas 3 kg.

No Reino Unido, porém, a invenção alcançou uma modesta participação – só em 1990 os aparelhos foram colocados nas ambulâncias.

Nos EUA, a história foi diferente. Com o chamado “Plano Pantridge”, os equipamentos foram rapidamente colocados em operação em vários hospitais do país.

Em um dos casos mais emblemáticos, o desfibrilador portátil foi usado para socorrer o ex-presidente Lyndon Johnson após ele sofrer um ataque cardíaco na Virgínia, em 1972.

Frank Pantridge se tornou tão conhecido em terras americanas à época que chegaram a dizer que ele poderia se candidatar ao Congresso.

Legado

Morto em 2004, Pantridge era visto como uma pessoa franca e complexa.

Em seu obituário no jornal inglês The Guardian, lia-se: “Inquestionavelmente focado e brilhante, trouxe avanços únicos para a cardiologia. Podia ser briguento, áspero e às vezes rude, mas era também generoso. Para gostar de uma pessoa, tinha que respeitá-la, e daí seria um amigo leal.”

Muitos no campo da Medicina acreditam que a sua natureza franca, sem rodeios, e os problemas com as autoridades foram o motivo de ele não ter recebido o merecido reconhecimento.

Frank Kelly, integrante da equipe que colocou o desfibrilador em produção, diz ter boas memórias do tempo em que trabalhou com o cardiologista.

“Ele era um homem muito talentoso”, disse. “Fez o desfibrilador se tornar mais acessível e salvou muitas vidas. Ficou feliz de ter participado disso.”

Segundo a sobrinha-neta Victoria Jordan, os feitos de Pantridge são motivo de muito orgulho para a família.

“Acho que ele ficaria satisfeito por ser lembrado como pioneiro no seu ramo da Medicina. E como alguém que dava valor às suas raízes.”

 

Fonte: BBC | Imagens: PACEMAKER PRESS

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